Muito boa tarde.
Começar o Ano num dos pontos mais longínquos do território físico do nosso Portugal – na ilha do Corvo – é uma sensação única – feita de admiração pela gesta açoriana, de orgulho de ser português e de compromisso para com os que mais longe estão de tantos de nós.
Admiração pelo povo corvino, pelo povo açoriano, pela Região Autónoma dos Açores. Orgulho, em que se misturam Oceano sem fim, coragem dos que a tudo resistem para poderem ficar, abraço de saudade aos que partiram e partem e se espalham pelos cinco continentes, evocação dos que por esses continentes também servem Portugal nas Forças de paz e humanitárias, fraternidade aos que falam português em povos e Estados a que estamos unidos em Comunidade.
Compromisso para com os que mais longe estão de tantos de nós. Longe, porque por esse universo fora ainda sentem que nem sempre são lembrados. Longe, porque ficaram à espera de reconhecimento por campanhas africanas que fizeram em homenagem a um dever nacional. Longe, porque vivem em pobreza ou em risco dela, e ainda são quase um em cada cinco portugueses, ou sofrem desigualdades e abusos, por serem mulheres, por serem crianças e jovens, por serem idosos, por serem portadores de deficiência, por serem diferentes, por viverem excluídos na escola, na saúde, na comunicação. Longe, porque nasceram nos Portugais cá dentro que menos têm, menos fixam, menos são sinal de futuro.
Para todos, mesmo todos, vai o meu abraço, caloroso, abraço compungido por aquilo que falhámos, abraço empenhado naquilo que queremos fazer, para que amanhã seja melhor do que hoje, para que 2020, no que de nós depender, seja melhor do que 2019.
Um ano melhor é o meu voto amigo. E, mais do que isso, o meu assumido compromisso.
Dois mil e vinte será um ano de começo de um novo ciclo, no mundo, na Europa, em Portugal. Um novo ciclo que tem de ser de esperança mais do que de descrença ou desilusão.
No mundo, esperança quer dizer superação das ameaças de guerras comerciais entre grandes potências, maior atenção ao apelo de António Guterres para as alterações climáticas, respeito dos direitos humanos, procura de paz nos conflitos que agitam Ásia, América Latina e África, soluções conjuntas para imigrantes e refugiados, maior atenção à miséria e à fome e à insegurança que os explicam, construção de pontes em clima de relações de todos com todos.
Na Europa, esperança quer dizer governantes eleitos em maio de 2019 que reforcem unidade, que evitem adiamentos, que marquem uma posição com peso no mundo, que não hesitem no combate climático, que deem uma resposta vital no acordo com os britânicos, que promovam crescimento e emprego, que combatam desigualdades, que saiam das suas torres de marfim para se aproximarem dos europeus.
E em Portugal? Em Portugal, esperança quer dizer Governo forte, concretizador e dialogante, para corresponder à vontade popular, que escolheu continuar o mesmo caminho mas sem maioria absoluta, oposição também forte e alternativa ao Governo, capacidade de entendimento entre partidos quando o interesse nacional o assim exija, Justiça respeitada, porque atempada e eficaz no combate à ilegalidade e à corrupção e, por isso, criadora de confiança, Forças Armadas por todos tratadas como efetivo símbolo de identidade nacional, Forças de Segurança apoiadas para serem garantes de autoridade democrática, comunicação social resistente à crise financeira que a vai corroendo, poder local penhor de maior coesão social, descentralizando com determinação e sensatez e, para tudo isto ser possível, crescimento, emprego e preocupação climática duradouros, inovação na ciência e tecnologia e, portanto, na educação, e mobilização cívica para, com esse crescimento, enfrentarmos chocantes manchas de pobreza, estrangulamentos na saúde, carências na habitação, urgências para com cuidadores informais e sem-abrigo.
Em suma, esperemos e trabalhemos – repito, trabalhemos e não só esperemos – para um ano de 2020 melhor do que o de 2019. E, porque, nesse trabalho, nesse labor, há, olhando à escassez de recursos, prioridades a determinar, concentremo-nos, em 2020, na saúde, na segurança, na coesão e inclusão, no conhecimento e no investimento.
Convertendo a esperança em realidade.
Será um bom início de caminho para a Presidência do Conselho Europeu no primeiro trimestre de 2021.
Será um acolhedor clima para a Conferência Mundial dos Oceanos que as Nações Unidas, entre nós, promoverão este ano.
Será um promissor sinal de que vale a pena acreditar na liberdade, no ano em que celebramos dois séculos sobre a Revolução que marcou o início da passagem da Monarquia Absoluta para a Monarquia Liberal.
Mas será, sobretudo, uma razão mais para acreditarmos em Portugal.
E isto dito daqui, do Corvo, onde os corajosos açorianos há seculos com tudo arrostam mas ficam, e dito no dia em que se perfazem quarenta anos sobre o devastador sismo que provocou dezenas de mortos, atingindo sobretudo a Terceira, e nela Angra e Praia da Vitória, mas também São Jorge e Graciosa e sendo um teste à vontade de tantos tão abnegados, dito aqui, tem uma força muito maior e muito mais profunda!
É por sermos assim, por acreditarmos na nossa Terra, na nossa Pátria, nas nossas gentes que temos quase 900 anos de História!
Nós, portugueses, nunca, mas nunca desistimos de Portugal!