Artur do Cruzeiro Seixas, que nos deixou depois de uma vida longa e livre, foi uma figura multímoda da cultura portuguesa. A sua geração, que na década de 1940 aprendeu e transpôs as lições do surrealismo francês (indistinção entre a arte e a vida, porosidade dos géneros artísticos, liberdade irreverente, imprevisibilidade inventiva, humor desconstrutivo), revolucionou o nosso panorama artístico e literário.
Nas pinturas, desenhos, colagens e objetos de Cruzeiro Seixas, como na sua considerável produção poética, o mundo reencanta-se: é uma vez mais maravilhoso, insólito, fantástico, enigmático. A sua imaginação soberana é uma imaginação de encontros (encontro de textos, de pessoas, de imagens), uma poética de encontros. Mais do que um «cadáver esquisito», feito de elementos diversos, é um vivíssimo corpo em metamorfose, com uma «volúpia da vitalidade» que lhe confere unidade na diversidade, através das décadas e dos diferentes registos plásticos e poéticos.
As obras de Cruzeiro Seixas, para citar versos seus, «sabem ler nos mapas mais secretos / e de olhos vendados / o intensíssimo / amor dos relâmpagos». É esse segredo nunca desvendado, esse amor dos relâmpagos, que devemos a Mestre Cruzeiro Seixas.