António José de Almeida
Nasceu a 17 de julho de 1866, em Vale da Vinha, concelho de Penacova.
Em dezembro de 1910, casou com D. Maria Joana Queiroga de Almeida de quem teve uma filha.
Faleceu em Lisboa em 31 de outubro de 1929.
ACTIVIDADE PROFISSIONAL
Estudou em Coimbra e formou-se em Medicina, em 1895, pela Universidade daquela cidade com a classificação de distinto com 15 valores.
Apesar dos resultados obtidos, deparou com a proibição de exercer o magistério, devido ao lente da Faculdade, Lopes Vieira, já ter proposto ao Conselho daquele estabelecimento de ensino que o estudante António José fosse impedido de o fazer. A denúncia do conservadorismo dos professores, publicada nas 200 páginas da Desforra, não conseguiu alterar a decisão.
Em 1896, parte para Angola e, após curta estada, estabelece-se em São Tomé, onde exerce a profissão de médico, durante sete anos. Paralelamente, promove a Associação Pró-Pátria destinada a ajudar a repatriação dos colonos europeus.
Regressa a Lisboa em 22 de julho de 1903. Viaja por França, estagiando em várias clínicas de Paris.
De regresso a Portugal monta consultório na Rua do Ouro, mudando-se depois para a Praça de Camões, 6, 1.º, onde adquire a auréola de médico dos pobres. Muito embora continue a exercer esta atividade é na política que vai adquirir maior notoriedade.
PERCURSO POLÍTICO
A sua atividade política começa cedo, ainda na Faculdade. Nesta primeira fase da sua atividade neste campo, são dignos de realce os acontecimentos seguintes:
- Em 23 de Março de 1890, publica no jornal Ultimatum o artigo “Bragança, o último”, que lhe custou a pena de três meses de prisão, apesar de ter sido defendido por Manuel de Arriaga;
- Em 13 de Novembro de 1890, assina o Manifesto da Academia de Coimbra, no qual se afirmam os princípios republicanos;
- Em 15 de Janeiro de 1893, é o principal orador no funeral de José Falcão.
Após o seu regresso ao Continente, desenvolve uma intensa atividade política, procurando revigorar um Partido Republicano desmoralizado:
- É candidato às eleições parlamentares de 1905;
- No mesmo ano discursa no funeral de Rafael Bordalo Pinheiro, discurso que ficou célebre;
- É novamente candidato às eleições de fevereiro de 1906;
- É eleito deputado nas eleições de agosto do mesmo ano, pelo círculo oriental de Lisboa. Em 20 de novembro, os deputados republicanos são expulsos da Câmara, na sequência de um discurso de Afonso Costa e António José de Almeida, em pé em cima de uma carteira, propõe aos soldados, que os vinham expulsar, a implantação imediata da República;
- Em 1907, filia-se na Maçonaria, ficando a pertencer à Loja “Montanha”;
- É preso em 26 de janeiro de 1908, dias antes do atentado à família real;
- Participa no Congresso Republicano de 1909, sendo nomeado para o Comité Civil, tendo em vista mobilizar as forças republicanas para a rebelião armada;
- Funda e dirige a revista Alma Nacional, que nas vésperas da revolução republicana, vai desempenhar um papel importante na informação às camadas populares interessadas na mudança do regime.
Após os acontecimentos de 5 de outubro de 1910 a sua atividade política intensifica-se:
- Ministro do Interior do Governo Provisório;
- Funda e dirige o jornal República, em janeiro de 1911;
- Separa-se do Partido Republicano e funda o Partido Evolucionista, em 24 de fevereiro de 1912;
- Apoia no Congresso a participação de Portugal na guerra de 1914-18, a convite da Inglaterra;
- Preside ao governo da “União Sagrada” em março de 1916, durante o período da Grande Guerra, acumulando com a pasta de ministro das Colónias, reconciliando-se com o Partido Democrático de Afonso Costa;
- Eleito Presidente da República em 6 de agosto de 1919.
ELEIÇÕES E PERÍODO PRESIDENCIAL
António José de Almeida foi eleito Presidente da República na sessão do Congresso de 6 de agosto de 1919, ao fim do terceiro escrutínio.
No primeiro, entraram na urna 181 listas, tendo-se obtido o seguinte resultado:
- António José de Almeida: 87 votos
- Manuel Teixeira Gomes: 12 votos
- Afonso Costa: 3 votos
- Azevedo e Silva, Duarte Leite, Magalhães Lima e Correia Barreto: todos com um voto cada
- Listas brancas: 2
No segundo, entraram na urna 179 listas e o resultado foi o seguinte:
- António José de Almeida: 93 votos
- Manuel Teixeira Gomes: 83 votos
- Listas brancas: 2
- Uma lista com o nome de António Teixeira Gomes que não foi considerada.
Finalmente, no terceiro, com 167 listas entradas:
- António José de Almeida: 123 votos
- Manuel Teixeira Gomes: 31 votos
- Listas brancas: 13
Tomou posse em 5 de outubro daquele ano, prestando naquela data o seu compromisso de honra perante o Congresso.
Durante o período presidencial, os momentos de felicidade vividos aquando das visitas a Portugal dos reis da Bélgica e do príncipe do Mónaco, da viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral e sobretudo do momento alto da visita do Presidente português ao Brasil, entre 17 de agosto e 27 de setembro de 1922, integrada nas comemorações do centenário daquele jovem país, não conseguem fazer esquecer o clima de grande perturbação global que se vive na sociedade portuguesa.
Como grande pano de fundo, a epidemia de tifo, que só no ano de 1919 provoca mais de 2000 vítimas.
No tecido social, as greves constituem a palavra de ordem. Dos trabalhadores dos telefones e da indústria corticeira, em janeiro de 1920. Em março, ferroviários, correios e telégrafos e tabacos. Em setembro, novamente os ferroviários. Em janeiro de 1921, greve geral dos trabalhadores da Imprensa que irá durar cerca de quatro meses. Em fevereiro de 1922, Carris e conservas de peixe de Setúbal e, em agosto do mesmo ano, greve geral contra a carestia de vida, seguidas de tantas outras levadas a cabo ao longo do ano de 1923.
Como exemplo de atos de rebeldia revolucionária, os acontecimentos de 19 de outubro de 1921 constituem marco frisante, com o final dramático das mortes de António Granjo, chefe do Governo, Machado Santos e Carlos da Maia. As eleições sucedem-se: maio de 1919, julho de 1921 e janeiro de 1922.
Os governos, por último. Não contando com o de Sá Cardoso, que continuou até 21 de janeiro de 1920, António José de Almeida vai dar posse a dezasseis chefes de governo.
Só entre 21 de janeiro de 1920 e 2 de março de 1921, sucedem-se sete. Domingos Pereira, António Maria Baptista, José Ramos Preto, António Maria da Silva, António Granjo, Álvaro de Castro e Liberato Pinto.
No ano de 1921, vai investir mais seis. Bernardino Machado, Barros Queirós, António Granjo, Manuel Maria Coelho, Maia Pinto e Cunha Leal. O ano de 1922 será reservado para três governos de António Maria da Silva, conseguindo-se uma certa acalmia.
No meio desta barafunda, a que o desentendimento que grassa entre as individualidades que constituem a classe política não é alheio, sente-se uma cada vez maior aceitação à presença dos militares na ação governativa, prenúncio dos acontecimentos do 28 de maio.
ACTIVIDADE PÓS-PRESIDENCIAL
Após ter sido substituído no cargo por Manuel Teixeira Gomes em 5 de outubro de 1923, continuou a colaborar no jornal República.
Atacado de gota, passa os últimos anos numa cadeira de rodas, vindo a falecer em 31 de outubro de 1929, não chegando a tomar posse do cargo de grão-mestre da Maçonaria, para que tinha sido eleito.
Em sua memória, foi-lhe erigido um monumento em Lisboa da autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do arquiteto Pardal Monteiro.
OBRAS PRINCIPAIS
A sua obra reparte-se pelos manifestos, artigos, cartas, entrevistas e sobretudo pelos discursos. Improvisador de génio, as suas peças de oratória ficaram célebres, destacando-se os discursos proferidos nos funerais de Rafael Bordalo Pinheiro e de José Falcão, no Parlamento e durante a sua visita ao Brasil, que podem ser consultados na obra intitulada 40 Anos da Vida Literária e Política, Lisboa, J. Rodrigues e Companhia, 1934.