O surto de Covid-19, agora convertido em pandemia, sabe-se hoje, pode ser mais intenso e duradouro do que a própria Organização Mundial de Saúde pensava.
Basta ver que, no próprio país de origem, passados quatro meses, o processo não se encontra ainda encerrado.
Na Europa, os dados recentes revelam não se confirmar que o pico foi atingido e que a desaceleração do processo já se tenha iniciado.
Quer isto dizer que o esforço de todos e de cada um terá de ser maior, para enfrentar uma situação que pode ser mais grave e duradoura do que muitos especialistas diziam no começo do ano.
O Governo anunciou ontem as medidas que entendeu estritamente necessárias e suficientes para esta fase da situação vivida em Portugal, na saúde, como na economia, no emprego e nos rendimentos.
Mas deixou também claro que, se mais medidas forem exigidas para salvaguardar os Portugueses, não deixará de as tomar.
E, de facto, se a situação o impuser, essas medidas mais reforçadas deverão ser mesmo tomadas.
O Presidente da República, que tem acompanhado o processo par e passo, apoia a decisão do Governo, saúda o sentido de Estado dos partidos e parceiros sociais, e promulgará ou tomará a iniciativa quanto a todas as medidas que for entendido serem imprescindíveis perante a gravidade da situação.
Envia uma palavra mais de solidariedade aos compatriotas internados - alguns dos quais conheceu nas últimas semanas -, tratados em casa, em vigilância ou em quarentena, como ele próprio se encontra por entendimento das autoridades sanitárias.
Agradece, renovadamente, ao pessoal de saúde, todo ele, a dedicação sem limites, que tem votado, semana após semana, e estende esse agradecimento aos muitos outros profissionais que já exprimiram a sua disponibilidade para colaborarem na missão comum.
Finalmente, pede aos portugueses que continuem mobilizados mas serenos, preocupados mas disciplinados, percebendo que só com paciência e contenção, cumprindo as medidas tomadas, evitando situações de risco e ficando em casa sempre que possível, pensando nos mais vulneráveis, sobretudo nestas próximas semanas, será possível criar condições para moderar e depois travar a pandemia e tratar, em unidades de saúde e em casa, os pacientes.
Tudo, cuidando, ao mesmo tempo, dos efeitos económicos e sociais, por forma a limitar a quebra no crescimento, no emprego e nos rendimentos das famílias, agora e nos tempos vizinhos. Isto, porque nos encontramos perante um duplo desafio: de saúde pública e económico e social.
Portugal já enfrentou, ao longo da sua História, desafios de saúde pública mais graves do que este. Basta pensar na gripe pneumónica de há cem anos, com várias ondas de propagação, e que foi travada sem os meios e os recursos de hoje. Mas com custos muito elevados que temos de evitar desta vez.
Portugal já enfrentou desafios financeiros, económicos e sociais ainda mais intensos à sua existência como Nação independente e soberana, e ultrapassou todos eles.
Tudo por causa da sabedoria e da experiência dos Portugueses, que, nas horas essenciais, se unem, se disciplinam, resistem, reforçam o seu querer e vencem.
Assim será, também, desta vez.
Marcelo Rebelo de Sousa