Nikias Skapinakis foi, a vários títulos, um autor emblemático da nossa pintura e artes visuais. Filho de mãe portuguesa e pai grego, cursou Arquitetura, dedicou-se à pintura, partilhou atelier com Bartolomeu Cid dos Santos e Sá Nogueira, foi amigo de escritores, oposicionista ao regime, homem culto e elegante, cosmopolita e livre.
Podemos fazer, através de muitos dos seus trabalhos, uma história em imagens do Portugal contemporâneo.
Das capas de livros de Aquilino e Nemésio aos painéis da Brasileira do Chiado, do encontro entre três mulheres voluntariosas (Natália Correia, Fernanda Botelho e Maria João Pires) à arte pública no metropolitano de Lisboa e a uma homenagem à bandeira nacional, Nikias retratou com maestria o seu e o nosso tempo. Mas também pintou o seu imaginário: naturezas mortas, séries mitológicas, quartos inventados, jogos com a publicidade, exultações cromáticas ou eróticas e algumas melancolias.
Foi um amigo próximo, com quem tive o gosto e a honra de partilhar ideias ao longo de muitos anos.
À família de Nikias Skapinakis, artista maior, apresento as minhas sentidas condolências, já com muita saudade.
Marcelo Rebelo de Sousa